A expressiva obra do artista plástico brasileiro que hoje figura nos principais museus do mundo Tudo vira arte na mão desse paulistano. Tudo mesmo: catchup, calda de chocolate, caviar, poeira, açúcar, diamante, lixo e até fumaça de avião. Vik Muniz transcende o significado das coisas e, como gosta de dizer, causa um “curto-circuito” na noção que temos de alguns materiais. Tanta excentricidade, ou melhor, criatividade só poderia torná-lo um dos artistas plásticos brasileiros mais prestigiados do mundo.
A genialidade impressa nas obras diz muito sobre esse brasileiro de origem humilde e que estudou Publicidade e Propaganda na juventude. Com as lições que aprendeu no curso, ele promove seu trabalho e sua imagem. Já as lições da vida, ele carrega na alma e, com muita sensibilidade, transforma-as em matéria-prima de suas criações. Vicente José de Oliveira Muniz, nascido em 1961, passou a viver nos Estados Unidos na década de 1980, onde instalou seu ateliê e pôde divulgar seu trabalho.
Ganhou destaque profissional em 1996, com a série Crianças de Açúcar e, a partir daí, ganhou notoriedade e espaço nos principais museus do mundo. A tradução de sua obra requer a mesma sensibilidade de que ele lança mão em suas criações, porém, olhando mais de perto, sentindo o cheiro ou mesmo contemplando seus significados, resta-nos apenas uma palavra: extraordinário! A Revista Colombo Premium reuniu alguns trabalhos do artista. Aprecie suas obras e conheça detalhes de sua produção. As citações foram extraídas do livro Reflex: Vik Muniz de A a Z.
Série Crianças de Açúcar, 1996
Série emblemática que colocou definitivamente o artista no seleto mundo da arte contemporânea. A inspiração para a obra veio do encontro com crianças nativas do Caribe, durante as férias de 1995. Personagens de uma vida dura, cujos pais eram trabalhadores em uma plantação de cana-de-açúcar. De volta a Nova York, Vik Muniz decidiu converter as fotos e as lembranças daquelas crianças em arte, a partir de papel preto e açúcar de vários tipos. A série rendeu seis retratos e tornou-se um de seus mais significativos trabalhos, sendo exposta em importantes museus do mundo.
Série Quadros de Chocolate, 1997
Usar calda de chocolate em pinturas parecia um desafio à criatividade de Vik Muniz. Ávido pelo inusitado, o artista transformou a substância em material para criar a série, um de seus trabalhos mais destacados, sobretudo pela ousadia. A justificativa traz diversos significados, o que torna o trabalho ainda mais rico. Chocolate nos faz pensar em amor, luxúria, romance, obesidade, escatologia, manchas, culpa, etc, associações que, sem dúvida, provocam um curto-circuito no significado da imagem original de que eu me sirvo para desenhar, descreve.
Série Mônadas, 2003
A sensibilidade de Vik Muniz cria obras que se destacam por seu simbolismo e sua carga emocional. Nessa série, uma de suas obras representada na foto ao lado, foi reproduzida a partir da observação de imagens de crianças, em especial, o retrato de um jovem menino, com vestimentas de soldado e olhar perdido. Para reproduzir a imagem, ele usou centenas de soldadinhos de plástico coloridos.
Série Quadros de Diamantes, 2004
Nessa série, tudo que brilha são, sim, diamantes. Vários deles, cedidos por um negociante das pedras em Nova York, que queria saber quantas delas eram necessárias para criar um desenho qualquer. A partir daí, o artista eternizou os rostos mais badalados de Hollywood. Desenhei Bette Davis, Elizabeth Taylor, Marlene Dietrich e outras, todas iluminadas de acordo com o glamour cinematográfico em soft light, angular e frontal, fotografadas com o implacável hard light, para transformar as pedras em prismas, relata Muniz.
Série Pictures of Garbage, 2008
Sem dúvida, um dos trabalhos mais expressivos do artista. As cenas que inspiraram as fotos foram capturadas no lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A experiência rendeu o premiado documentário Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar em 2010. Ao extrair arte do lixo, o artista mostrou com riqueza de detalhes especialmente na expressão da catadora da foto The Gypsy (Magna) o sorriso singelo e o colorido gosto pela vida.